Multilado

Um amor                    injusto quando                   frio demais
Maior que,                 mesmo incompleto,            tudo mais
A própria vida            acaba como o resto           fica para trás
Perdida                      no depósito social             se for individual,
No Mar infinito,          concorrência animal,          sozinho no final
Sofrido efeito             pálido e natural                  sentado ao luar
Solidão sentida          encerra o ciclo                   vendo a vida passar.

Máquina do tempo

Que roupas são essas
Aonde será este lugar
Seriam essas pessoas
Que estavam a vagar?

Fenda no espaço
Buraco no tempo
Amor feito no aço
Inexorável sentimento

Que costumes, que música
Que língua, que gente.

Afinal, quem sou?

Laceado

Ideal adornado

Adorada, só se atinge quando unido

Doce sabor em meio ao mar de peixes

Existe felicidade só se é dividida

Dá à vida o tom

Tombo inigualável

Velocidade infinita quando, de repente

Sente o frio pela coluna subir, quente arrepio

Pior que sozinho, sozinho na multidão

Dão à vida a dor

Dormência superada

Errado aquele que é sozinho e feliz

Lisonjeado por acordar como um elo

Elogiado e perfeito na corrente

Te divida

A vida só existe se é compartilhada



Limoeiro

Lindo e lento

Gradual e progressivo desenvolvimento

Crescimento ordenado, extremamente delicado

Tanto afeto necessita quanto possível de ser dedicado

E ao longo dos longos anos que se cultivou

Ele cresceu e perfeitos frutos esféricos gerou
Frutos que possuem característico amargor.

Azedume desanimador

Dureza insuperável

Aspereza invisível

Toque insensível

Acidez corrosiva

Relação seca

Rija substância

Laço destruído

Na Falta de carinho

Sempre vivo, o motivo maior, amor.

Marcello Kairalla

18/04/2011

Eterno

O auge, extensão de toda e qualquer forma de afeto
Como o mar envolve o território e chove na serra
Um Braço estendido, braço de mar, fio de esperança
A busca por afeto na rua, braço, da perseverança
A observação, sentimento renovado, à vista, terra
A ânsia de abraçar o globo, a obra do arquiteto.

Ver, olhar, aproximar, tocar, abraçar.

Indescritível momento, pela duração infinita de um segundo.
Aperto que não se sente. Coração acalentado
Gesto que não se vê. Calor que reflete no sorriso dentado
Momento de desarme, redenção e esquecimento do mundo

30/03/2011
Marcello Kairalla

Rosa Invisível

Acidente externo
Risco extremo

Desastre natural imposto
Mistura terra mar
País destruído, devastado

Desastre relembra o acidente Hiroshima
Fukushima é abalada por tremores
A nuvem formada é tangível
Cinquenta heróis que serão mártires
Ostentam a linda rosa invisível

Marcello Kairalla
21/03/2011

Escrito com areia

Móveis areias que formam e deformam

Parede temporal alterável sobrevive.

Todos os dias as crianças batalham

Para subirem seu palácio

O reino é criado, mas falece para o tempo

Renasce, o broto desabrocha

Chamado para um novo começo belo

A esperança é verde, sobe pela rocha

E reconstrói o castelo

O verde se acinzenta, dá lugar ao medo

Fala-se não mais em primavera

As folhas caíram e com elas o desejo sonhado

Despedaçado, levado pela maré.

Marcello Kairalla

14/03/2011 -  dia do Pi

Um Eco da Vida

Sob o grito: Trabalhadores do mundo Uni-vos

Solidão

Multidões imperceptivelmente mutiladas aglomeram-se

Sozinho

Como uma manada que uniformizada move-se

Igual

A união se concretizou, mas a proximidade gritou Afastai-vos

Se unidos vencemos, divididos cairemos

Caímos

Perdemos todos amontoados, desumano

Decompusermo-nos

O grupo caiu em nome do individualismo

Deserto

Falsamente juntos, unidos,

No inverno das almas sair do inferno

Frio

Milhões de vozes não escutadas, gritos inúteis

Quieto

Para estar junto não é preciso estar perto

Longe

E sim do lado de Dentro

Marcello Kairalla

24/02/2011

O box branco ai embaixo é para postarem comentários, obrigado

Passante

Quem é você.
  Você que passa
    Passa e não volta
       Volta e não vê
                      Disturbio na ordem
                         Desordem instalada
                            Desinstala a normalidade.
                               Anormal atração
                                     Afasta-se rapidamente.
                                     Encontro de olhos
                                            Por fim saiu
                                               Quem importava não viu
                                                    Não mais se encontrariam.


Marcello Kairalla
28/01/2011

Saudade

Virar de costas, improposital
Abandonar o indispensável.
Propósito perfeito, impossível
Movimento essencialmente maleável.

Furo no céu e no peito.
A estrela acima se apaga
A estrela de dentro afoga
Entre soluços e lágrimas deito.

Como em um segundo o céu muda
Em um flash da noite para o dia
A noção de tempo fica muda
Quieta e impassível, a espera do dia.

Correndo na contramão, subindo a escada
Rolante que desce. Nadando contra a corrente

Nó que aperta e quanto mais se mexe.

Marcello Kairalla
27/01/2011